É possível perder o medo de dirigir? Instrutoras especializadas garantem que sim; entenda
'Foi uma virada de chave na minha vida', diz confeiteira que conseguiu superar pânico e assumir o volante em Ribeirão Preto (SP) 21 anos depois de tirar habil...
'Foi uma virada de chave na minha vida', diz confeiteira que conseguiu superar pânico e assumir o volante em Ribeirão Preto (SP) 21 anos depois de tirar habilitação. Serviço combina apoio psicológico com instrução de trânsito. Aumenta procura de profissionais que ajudam pessoas com fobia no trânsito em Ribeirão A confeiteira Caroline Bonuti tirou a carteira de habilitação em 2003 ainda quando morava em Orlândia (SP) e chegou a dirigir algumas vezes, mas o receio virou pânico, principalmente depois que se mudou para Ribeirão Preto (SP), um centro urbano maior e com trânsito mais intenso. "Era um pânico, uma fobia mesmo. (...) Era o conjunto, o trânsito, era tudo, tinha algo que me incomodava muito, que me deixava com medo, me limitava e me impedia de fazer o que eu precisava", diz. Faça parte do canal do g1 Ribeirão e Franca no WhatsApp Mas, recentemente, a vida dela mudou completamente depois de procurar ajuda profissional especializada por indicação de uma amiga. Hoje, Caroline garante dirigir sozinha, sem medo algum. "Não tenho medo nenhum e eu já até falei pra ela [instrutora], parece que eu virei outra pessoa, porque realmente eu descobri a pessoa que eu era, que estava dentro de mim, foi uma virada de chave na minha vida e eu descobri o que estava dentro de mim, descobri o que eu podia fazer, descobri a habilidade que eu já tinha e estava adormecida em mim", conta. A confeiteira Caroline Bonuti perdeu medo de dirigir 21 anos depois de tirar a carteira de habilitação Jefferson Severiano Neves/EPTV A mudança de chave na vida de Caroline tem a ver com um serviço que combina aulas de instrução de trânsito com suporte psicológico. Um trabalho feito por profissionais como Lia Ferreira, instrutora especialista em medo de dirigir. "Isso é o propósito do meu trabalho. Eu encontrei o meu propósito fazendo isso. Eu vejo a mudança que provoco nos meus alunos, e é isso que resume. Eu quero fazer parte dessa transformação, que a pessoa veja do que ela capaz e o que ela está perdendo. É muito além do que dirigir", diz. Amaxofobia: por que as pessoas têm medo de dirigir Segundo as especialistas, a amaxofobia, nome dado ao medo de dirigir, tem origem em causas diferentes, de traumas a transtornos de ansiedade e síndrome do pânico. Além disso, nem sempre os alunos saem das autoescolas 100% preparados para assumir o volante, segundo Lia. "Não vai ser ensinado muita coisa além do que vai ser pedido no dia da prova, então o aluno já sai de lá despreparado. Quando ele pega o carro dele e sai com o carro para o trânsito real, ele leva um choque, a realidade, esse é um dos fatores. Outro fator, eu acredito, que as pessoas estão mais responsáveis, não sei, a pessoa sente que não tem aquela habilidade para fazer aquilo, ela não vai entrar no carro e se colocar em risco, sua família, outras pessoas", afirma. Lia Ferreira, instrutora especialista em medo de dirigir, e sua aluna, Caroline Jefferson Severiano Neves/EPTV Como perder o medo de dirigir? Para os instrutores especializados, com certeza é possível perder o medo de dirigir. Mas a abordagem começa entendendo as causas dos medos associados a assumir o volante. "Sou procurada por pessoas que simplesmente têm aquele medo e não sabem de onde vem, e o medo é paralisante, ela não consegue fazer coisas básicas, levar um filho na escola, fazer um supermercado, não consegue dirigir, não consegue ir na igreja, não consegue visitar parentes, depende do marido, de Uber, de transporte por aplicativo, tem as pessoas que têm um transtorno, que realmente desenvolveram essa fobia, e têm pessoas que têm muito medo de crítica", explica Lia. Segundo Raquel Oliveira, instrutora pós-graduada em medo de dirigir, isso passa por uma avaliação emocional. "Pode ser emocional, um estresse, uma ansiedade, uma cobrança, pode ser medo de atropelar, causar acidente, medo do que é novo, então tem vários motivos, às vezes uma experiência negativa, um trauma", diz. O segundo passo é desmistificar o medo do automóvel e de manusear corretamente comandos, marchas, embreagem e freios. "Para quem não consegue dominar o carro, parece que ele está até vivo, que você está dominando touro bravo. É desmistificar isso, o carro só vai fazer o que você quer que ele faça, só que para isso você tem que entender como ele funciona", afirma Lia. Na sequência, o trabalho é tirar os receios com relação ao trânsito, o que passa por entender ou relembrar as leis de circulação e as rotinas mais comuns de ruas e avenidas. "Boa parte dessas pessoas têm medo de pegar uma rotatória um pouco mais complicada, passar no Centro da cidade, e nós trabalhamos com esse tipo de pessoas e pessoas que não dirigem de jeito nenhum, que passaram por uma experiência negativa, que às vezes até sofreu um acidente ou algo parecido", afirma Raquel. Caroline Bonuti garante que perdeu o medo de dirigir depois de 21 anos Jefferson Severiano Neves/EPTV Em cidades com tráfego mais intenso, como Ribeirão Preto, esse é um dos grandes desafios, mas possíveis de serem contornados, sem abrir mão da responsabilidade. "Ribeirão é uma cidade onde não é fácil dirigir, então as pessoas não têm respeito com as outras, às vezes até mesmo pedestres atravessam em locais que não podem e isso assusta", diz. Outra abordagem muito importante, segundo as instrutoras, é mostrar o que as pessoas estão perdendo por não conseguirem se deslocar por conta própria. "Isso mexe com questões internas, principalmente a autoestima: 'todo mundo dirige, menos eu'. Isso mexe muito com a pessoa, isso acaba trazendo prejuízos pessoais, profissionais, a pessoa começa a se sentir inferiorizada", afirma Lia. Mais confiança Para Caroline, além do suporte psicológico, o que fez a diferença com relação ao período de autoescola na instrução especializada foi a prática. "Na autoescola a gente aprende muito a teoria, então tem coisas que a gente não aprende, coisa que a gente vai precisar no dia a dia mesmo, no trânsito, a autoescola não vai ensinar a gente, porque é bem mais teórico, mesmo que a gente faça as aulas de rua, não tem aquela vivência que a gente tem em um atendimento personalizado, nessa aula personalizada, é bem diferente." Veja mais notícias da região no g1 Ribeirão Preto e Franca VÍDEOS: Tudo sobre Ribeirão Preto, Franca e região